Por Dário Teófilo Schezzi – psicólogo social
A resposta brasileira à Aids é mundialmente famosa por ter sido uma das primeiras do planeta a enfrentar os fantasmas da distribuição maciça e gratuita de medicamentos para o HIV. Na época, os ativistas, profissionais de saúde e gestores públicos perceberam que o Estado brasileiro, no contexto da implantação da Constituição Cidadã de 1988, deveria aplicar o artigo que diz sobre o dever de o Estado promover a saúde da população.
Muitos estudiosos do assunto foram contrários a esta política, principalmente pesquisadores norte-americanos que temiam que o Brasil pudesse ser responsável pelo desenvolvimento e a transmissão de vírus resistentes aos remédios, fenômeno que ocorre quando o paciente toma o medicamento de modo irregular e que leva ao fracasso do tratamento. Estas previsões negativas não ocorreram e o Brasil hoje demonstra com um punhado de dados e estatísticas que o financiamento público do tratamento à Aids deu certo.
Mas não é só de remédios que se faz um tratamento. Há a necessidade de um contexto de saúde pública favorável e bem integrado às necessidades sanitárias de toda a comunidade.
As demandas para que se efetive o Programa Nacional de Enfrentamento à Aids, e às outras Doenças Sexualmente Transmissíveis, em muito se assemelham às atuais demandas da política de Saúde Mental: só quando tivermos uma rede bem estruturada que conte com uma cobertura satisfatória da rede básica, que contempla as unidades básicas de saúde e as unidades de saúde da família e que estejam integradas à cobertura de especialidades e aos pronto atendimentos, é que poderemos comemorar a resolutividade da Rede.
Hoje, Dia Mundial de Luta contra a Aids, os grupos de ativismo da sociedade civil lançaram um manifesto demonstrando a gravidade da epidemia de Aids na atualidade e sinalizando que Ribeirão Preto é a terceira cidade em óbitos decorrentes da Aids no Estado de São Paulo.
Reconhecemos os esforços dos Programas Municipal, Estadual e Nacional de Aids em incentivar a testagem em massa para o HIV, porém, entendemos que é necessário uma maior integração das ações de promoção de saúde em Aids na rotina das unidades básicas de saúde, e para além disso, uma melhor integração intersetorial no sentido de se diminuir a vulnerabilidade social, como o diálogo junto aos equipamentos da Assistência Social.
A Aids ensinou ao poder público e à comunidade científica que promoção de saúde deve ser feita para além da saúde. Deve se abandonar os discursos e enquadres rígidos das pastas públicas para que a intervenção do cuidado estatal se faça de um modo integrado a partir de onde estão as pessoas: na vida cotidiana, na rotina, na comunidade.
Em tempo: neste fim de semana, um grupo de ONGs de Ribeirão Preto fizeram um manifesto na porta da Secretaria de Saúde, exigindo uma melhor atenção as estatísticas relacionadas ao cuidado das pessoas que vivem com HIV/Aids na cidade.