O vereador Marcos Papa (Podemos) esteve na sede da OAB/Ribeirão Preto, na noite da última quinta-feira, dia 5 de maio, para assistir a palestra “Trabalho remoto e seus efeitos na saúde do trabalhador”, ministrada pela juíza federal Márcia Cristina Sampaio Mendes, titular da 5ª Vara do Trabalho de Ribeirão Preto.  

Márcia Cristina também atua no Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, é coordenadora do Juizado Especial da Infância e Adolescência, mestre em Direitos Humanos, especialista em Economia Social do Trabalho, professora universitária e de pós-graduação.

Para Papa, além de muito interessante, o conteúdo da palestra é alarmante, pois mostrou que, depois de um ano do início da pandemia da Covid-19, 40% dos trabalhadores de modo geral adoeceram. “E, de acordo com doutora Márcia, esse número deve ser ainda maior se consideradas as subnotificações e os trabalhadores informais”, destacou o vereador, que preside a Comissão Permanente de Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento Econômico, Relações Internacionais e de Consumo.

As três principais causas de adoecimento foram ortopédicas, visuais e psicológicas. A juíza relaciona as ortopédicas a falta de equipamentos adequados de trabalho nas residências, que abruptamente com o home office e o teletrabalho se tornaram escritórios. As visuais devem-se ao considerável aumento de horas em frente ao computador.

Já os problemas psicológicos estariam relacionados a insegurança e ao medo de perder o emprego, redução de renda, adoecer e perder familiares. “A doutora Márcia seguirá pesquisando a fundo esse tema por entender que o adoecimento mental ainda será aferido ao longo de anos, e que os desdobramentos das mudanças que a pandemia nos impôs abruptamente não param por aqui”, ressaltou Papa, que, em 2020, presidiu uma CEE (Comissão Especial de Estudos) sobre Saúde Mental, na Câmara.

Caminho sem volta

De acordo com a juíza federal, apesar de hoje boa parte da população estar vacinada e muitos terem retomado a rotina, pesquisa nacional realizada com 500 empresários revelou que a maioria das empresas pretende seguir remotamente ou de forma híbrida.

Esse caminho sem volta provoca receios. O home office e o teletrabalho mostraram um aumento da produtividade e o questionamento que se faz é se o capital vai se satisfazer quando essa produtividade reduzir”, enfatizou Márcia Cristina.

Obstáculo x produtividade

Segundo a magistrada, ao mesmo tempo em que o home office e o teletrabalho proporcionaram liberdade de horário, redução de custo e de tempo deslocamento, a pandemia expôs excesso de trabalho, sofrimento, falta de suporte e de reconhecimento.

Dentre os obstáculos elencados: conexão full time, com um aumento médio de 10% na jornada, solidão, porque o trabalho remoto implica em deixar de conviver socialmente com os colegas de serviço, distração, falta de disciplina, rotina estressante e, no caso principalmente das mulheres, compatibilização com a rotina familiar”, enumerou.

Márcia enalteceu que o padrão dos efeitos da pandemia acompanha as desigualdades estruturais da sociedade brasileira.Ao fim e ao cabo é fundamental um meio de trabalho equilibrado para que o trabalho não passe a ser sofrimento. A satisfação e o reconhecimento profissional são essenciais para a saúde do trabalhador”, concluiu.