Pequeno e fragmentado, o sistema cicloviário de Ribeirão Preto em nada se assemelha ao de cidades de porte semelhante, como Sorocaba e Americana. Enquanto esses municípios possuem até 180 km de ciclovias, Ribeirão Preto estagnou em 14 km. Há anos o governo municipal não investe em um dos principais modais da mobilidade urbana.
Com o objetivo de conseguir do atual governo a promessa de aumentar a malha cicloviária do município, o vereador Marcos Papa (Rede) convidou uma comissão de ciclistas para participar de uma reunião com o prefeito Duarte Nogueira, no Palácio Rio Branco, na última quarta-feira (25). O grupo já havia participado da reunião pública que Papa promoveu na Câmara, no dia 2 de agosto, para debater o Plano Cicloviário de Ribeirão Preto.
“Nós entendemos que Ribeirão Preto não pode perder de Sorocaba e Americana. O senhor pode dizer que é um salto muito alto para quem tem 14 pular para 180 quilômetros. Mas a gente não pede para que seja da noite para o dia, que isso seja um plano que englobe todo o seu mandato e que haja planejamento para que, além dos recursos do PAC, a prefeitura também disponibilize recursos próprios para fazer esse investimento ou capte recursos em Brasília para que possamos ter um transporte menos carbonizado”, defendeu Marcos Papa, que é presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara.
Após Marcos Papa enfatizar a necessidade de incentivo aos transportes menos carbonizados e pleitear que os investimentos em ciclovias no município não se resumam aos recursos do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) da Mobilidade, que preveem a construção de mais 24,9 quilômetros, Nogueira prometeu realizar estudos junto à Transerp e às secretarias responsáveis e anunciar, em 2018, uma meta para ser cumprida ainda no seu governo.
“Vamos fazer isso no ano que vem. Vereador Marcos Papa pode ficar vigilante da Mobilidade Urbana, começar a discutir com o secretário de Planejamento a minuta desse Plano de Mobilidade. Peguem Planos de Mobilidade de cidades importantes, como Nova York, Barcelona e Paris. Ribeirão tem que ser uma cidade global. Tudo o que tiver de melhor no mundo temos que trazer para cá”, enfatizou Nogueira, emendando que, atualmente, Ribeirão Preto tem 528 mil veículos automotores, número maior do que o número de CNHs emitidas no município.
Crise climática
Para Marcos Papa, um dos principais motivos para se investir em ciclovias hoje é a crise climática. O parlamentar destacou também que o trânsito ficou extremamente hostil ao usuário da bicicleta e que parte da população usa bicicleta para trabalhar. “Desde 2013, nós temos feito reuniões com a Transerp e a Secretaria de Planejamento. Hoje nós temos um chefe do Executivo conectado com a realidade do mundo então é o momento de darmos essa virada”, frisou.
Segundo Marcos Papa, Ribeirão Preto não necessita de intervenções drásticas para implantação de ciclovias. “Temos aqui as avenidas Presidente Kennedy, Costábile Romano, Maurílio Biagi, Thomaz Alberto Whately. Existem rotas que podem abrigar ciclovias com muita serenidade sem necessidade de intervenção drástica então o movimento quer que o senhor assuma um compromisso conosco”, argumentou.
Revisão da malha
O superintendente da Transerp, Antônio Carlos de Oliveira Júnior, participou da reunião e explicou que a administração deve contratar uma empresa para rever a rede do transporte coletivo, nos próximos meses, visando integração maior com os corredores que serão criados e com o modal bicicleta.
Oliveira também ressaltou que o Plano de Mobilidade Urbana é de 2012 e precisa ser atualizado antes de tramitar na Câmara no próximo ano. O superintendente ainda lembrou que os bicicletários constarão na Lei do Mobiliário Urbano, que será enviada ao Legislativo em até dois anos após a aprovação do Plano Diretor.
“Vou atrás dos bancos. Gostei da ideia de integrar o cartão de condução com o destravamento das bicicletas. Os bolsões para transbordo precisam ficar em pontos estratégicos, como funciona no mundo todo”, acrescentou Nogueira.
Sistema integrado
A ideia, que funciona em São Paulo, foi destacada pela servidora pública Luciana Freitas, que representou o Movimento Bicicletada Massa Crítica, assim como o empresário Renato Rodrigues. Também participaram da reunião o professor FEA/USP, André Lucirton Costa, responsável pelo projeto Entre Rios, o empresário Adair Francisco da Silva, representando o Movimento Ciclovidas, e a assessora parlamentar Andréa Bombonato.
“O ideal seria termos ciclovias, transporte coletivo em corredores preferenciais e depois corredores exclusivos, DRT, VLT, aproveitar os ramais desativados para serem utilizados. Nós ribeirão-pretanos cometemos alguns erros, alguns deslizes, e precisamos agora correr atrás do prejuízo. O primeiro P da nossa administração é priorizar. Planejamento é o segundo P, ele não existiu. Nosso Plano Diretor é de 1995 e o único adendo ocorreu em 2003”, acrescentou Nogueira.
Plano de Mobilidade
Por fim, Marcos Papa lembrou que acionou o TCE (Tribunal de Contas do Estado), na gestão passada, porque a ex-prefeita Dárcy Vera queria fazer obras do PAC antes de enviar para a Câmara a Lei de Mobilidade Urbana. “Eu consegui barrar a licitação por conta disso. É importante que a lei venha antes, que se discuta com a sociedade primeiro para depois virem as obras de mobilidade que a gente precisa”, ponderou.
Nogueira finalizou a reunião afirmando que oficializará seu compromisso com o vereador Marcos Papa e com a comissão nas leis que complementam o Plano Diretor, que ainda serão enviadas ao Legislativo. “Este é o quinto P da administração, perenizar”, concluiu.