Vivemos em uma época em que o consumismo de enormes proporções está esgotando os recursos naturais. Os hábitos de consumo em ritmo exagerado, acrescido do desperdício e da falta de conscientização, fazem com que caminhemos para uma situação crítica sem volta. É que estamos usando os recursos em uma velocidade maior do que a capacidade de recuperação da natureza, além do descarte desses materiais em aterros ou lixões, que dão um fim limitado àquele recurso, que poderia voltar ao sistema em forma de matéria-prima para se transformar em um novo produto.
Hoje, Ribeirão Preto é a cidade da região que gera mais lixo! Mesmo levando em consideração o número maior de habitantes, a relação de produção por pessoa é de 20,95 kg por mês! Sim, acredite, segundo dados da Cetesb publicados na Folha de S. Paulo, 12.672.000 kg de lixo são enviados para aterro apenas em nossa cidade. Todo mês!
Segundo o diagnóstico do Plano Municipal de Saneamento Básico de Ribeirão Preto (2015), o programa municipal de coleta seletiva atinge apenas 25 bairros, o que resulta em pouco mais de 15% da nossa população. O volume da coleta seletiva também responde por somente 0,47% do total da coleta geral das casas.
Ainda é muito pouco perto do que precisa ser feito. É preciso que a Prefeitura amplie o programa de coleta seletiva na cidade, abrangendo todos os bairros e aumentando a efetividade dos centros de triagem – o que poderia ser feito, inclusive, com parcerias sérias e verdadeiras com cooperativas.
A responsabilidade de cada um
Por outro lado, não podemos apenas esperar que o poder público resolva esse problema, pois o lixo que produzimos é nossa responsabilidade! É dever, sim, de cada um de nós, separar o lixo útil do inútil antes deles sairem de nossas casas. Existem pontos na cidade para levar o lixo reciclável, seja em ecopontos, seja em supermercados, esses locais nos dão a oportunidade de destinar corretamente o lixo produzido, caso o seu bairro não seja atendido pelo programa de coleta do município.
Essa situação caótica que estamos vivendo deve ser enfrentada por cada um de nós. Devemos repensar nossas reais necessidades de consumo e, se realmente tivermos que consumir, realizar a destinação correta de modo a reduzir os impactos causados no meio ambiente pelo produto que foi consumido. O período de festas está aí. Já pensou quanto lixo geramos ao dar presentes em lindas embalagens que duram segundos na mão dos presenteados? Será que o planeta merece mesmo esse descaso em nome de nossas “surpresas”? Vamos repensar.
É certo e sabido que devemos reciclar, mas, antes disso, podemos diminuir o nosso consumo para reduzir o volume de lixo que produzimos e as nossas próprias dores de cabeça. Está em nossas mãos fazer a diferença!
Nossa luta contínua e direta: a PPP do Lixo
Nossa luta pelo meio ambiente é constante. Em dezembro de 2013, junto com ambientalistas, operadores do direito e outros cidadãos e cidadãs, paramos o edital da PPP do lixo, uma proposta bilionária para um contrato de até 35 anos, para o qual a prefeitura insistia em reunir, em um único documento, 11 blocos que abrangiam várias frentes de serviço. Se esse sinal claro de direcionamento não bastasse, ainda verificamos, entre outras irregularidades, que não havia nenhuma segurança para a cidade quanto ao uso de inovações tecnológicas ou mesmo quanto ao cumprimento dos acordos (Saiba mais, clicando aqui)
Depois de estudar o edital por quase dois meses, em reuniões periódicas com a sociedade, fizemos um relatório jurídico e um relatório ambiental, ambos apontando inúmeras irregularidades.
Em uma tentativa de diálogo com a prefeitura, sugerimos que a concorrência fosse fracionada em quatro blocos menores de serviço de modo a permitir a participação de mais empresas. Isso garantiria a lisura do processo e o agrupamento de mais expertise em cada segmentos, inclusive com a facilitação do uso de tecnologias mais avançadas para cada situação. Assim, teríamos ganhos ambientais e serviços mais especializados à população. Nossas sugestões não foram ouvidas pela administração municipal, mas foram acatadas pela Justiça após entramos com representações no Ministério Público e no Tribunal de Contas, que fez diversos apontamentos. Para funcionar, o edital deverá ser elaborado novamente, com as devidas correções.
Ajudando a arrumar a casa
Outra conquista foi a aprovação do projeto para instalação de coletor de pilhas, baterias e lixo eletrônico, aqui na Câmara em 2016. Poucos locais coletam esse tipo de resíduo e as pessoas acabam descartando junto com o lixo comum – o que é gravíssimo, pois os metais pesados encontrados aí, podem causar mutações nos seres vivos, ameaçando cada elo da cadeia alimentar, até chegar de volta em nossas mesas.
Você sabe que fui contrário à construção do anexo da Câmara nos moldes que estão postos mas, voto vencido, consegui aprovar ofício requerendo os planos de impacto e compensação ambiental da obra. Uma pequena, mas importante vitória.
Parece sonho? Realizemos juntos!
Nossa luta mais recente é engajar cidadãos e cidadãs como “Guardiões da Sustentabilidade” ou “Agentes Ambientais” em seus bairros. A Ideia é desenvolver e habilitar liderança não institucionais nos diversos bairros da cidade para que essas pessoas possam orientar e ser referência nas questões socioambientais locais, unindo e articulando as forças do bairro para melhorar a realidade local e enfrentar cada situação problema que possa aparecer. Dessa forma, vamos tecendo uma rede de líderes locais em que pessoas comuns se tornam defensoras do meio ambiente em que imediatamente vivem, seja lutando contra os problemas do lixo em si, ou contra os diversos tipos de corrupção que, no final, provocam tanta doença e sofrimento.
Marcos Papa
(Ilustrações: Editoria de Arte/Folhapress e Campanha publicitária Banco Bradesco)
