Presidida pelo vereador Marcos Papa (Cidadania), a CEE (Comissão Especial de Estudos) da Saúde Mental e Prevenção ao Suicídio ouviu, na manhã desta quarta-feira (29), dois usuários da rede municipal de Saúde: Rodrigo Bernardo e Sun Ju Szu.
Papa iniciou a reunião, que foi transmitida ao vivo pela TV Câmara, ressaltando que os trabalhos da CEE atrasaram em razão da pandemia do novo coronavírus, e que a Comissão mostrará à sociedade, por meio de oitivas de especialistas, que saúde mental não é apenas transtornos, mas também ansiedade, depressão e síndrome do pânico.
“Associamos a saúde mental à transtornos, mas saúde mental é mais do que isso. Precisamos de um conjunto de iniciativas que visem uma melhor saúde mental da população, isso reflete na qualidade de vida das pessoas e da coletividade”, frisou.
A CEE também é composta pelos vereadores Marinho Sampaio e Gláucia Berenice. A reunião desta quarta-feira contou com a participação dos vereadores Marinho e João Batista. Gláucia foi representada pela assessora Ane Elisa Lobo Massuia Freire.
O vínculo e as peculiaridades
Mãe de um casal diagnosticado com transtorno, Sun Ju Szu é usuária dos serviços de saúde mental há 24 anos. Na busca por conhecimentos para ajudar os filhos, ela mudou de trabalho, cursou psicologia e se tornou psicóloga com especialização em saúde mental.
Para ajudar famílias com situações semelhantes, Sun escreveu o livro “Desbravando o vazio da alma” e criou a AAPSI (Associação de Apoio ao Psicótico), que tem desenvolvido atividades online durante a pandemia. “Não queremos perder o vínculo principalmente para que, neste momento, não ocorram quadros de depressão. É necessário acompanhamento terapêutico. Gostaria de saber se os CAPS estão desenvolvendo atividades online”, questionou referindo-se aos Centros de Atenção Psicossocial.
O questionamento da depoente será formalizado pela CEE e encaminhado à Coordenadoria de Saúde Mental para entender como estão funcionando os trabalhos remotos. Sun também frisou a importância de trabalhar o vínculo e analisar as peculiaridades.
“As pessoas são diferentes e isso eu vi nos meus dois filhos. A visão sistêmica, olhar a família também, não apenas a pessoa que está adoecida. Todo o campo está adoecido. É importante trabalhar o todo, tenho essa experiência. Os grupos terapêuticos são muito importantes. Não pode isolar, precisa inserir dentro da sociedade”, ponderou.
Ainda em seu depoimento à CEE, Sun apontou falhas no sistema. “Penso que tem que melhorar muito. Se eu não tivesse ido buscar conhecimento, meus filhos não estariam como estão agora. Ouço muitas reclamações na AAPSI. Acho a estrutura precária. Preciso mostrar ao mundo que a gente pode mudar. Não sou salvadora, preciso de ajuda, mas acredito que tem que ter o entendimento dos familiares”, concluiu.
Falta diálogo entre as unidades
Formado em ciências contábeis, Rodrigo Bernardo, hoje com 38 anos, abandonou duas faculdades devido à questões de saúde mental. Ele foi diagnosticado com bipolaridade oscilando de fase maníaca ao quadro depressivo. O primeiro surto ocorreu em 2000. De lá para cá, foram cerca de 10 internações no Hospital Santa Tereza.
“Minha história começa em 2001, estava na faculdade de filosofia em Marília, e o uso compulsivo de entorpecentes me levou a um primeiro surto. Fui internado no HC por sete dias”, contou, emendando que foi liberado sem um diagnóstico fechado.
Rodrigo ainda acrescentou: “Aí fui para o CAPS AD, que funcionava muito bem em 2001, mas, ao longo do tempo, o trabalho foi depreciando, a rotatividade de psiquiatras começou a aumentar muito. Agora sou usuário do CAPS II para tratar apenas transtorno bipolar. Faz um ano e seis meses que não uso entorpecentes. Faço parte de outra irmandade para me manter sóbrio”.
Para ele, falta diálogo entre as profissionais que tratam saúde mental no município. “Fui bem tratado em todos esses lugares, mas o problema é a falta de diálogo. Mandam só uma carta de encaminhamento, o histórico não acompanha o paciente. Meu histórico no Santa Tereza não vai para o CAPS, aí o psiquiatra não tem como avaliar”, afirmou.
Rodrigo acredita que faltam recursos para os CAPS. “O CAPS AD tem pouca verba para realizar tudo o que precisa. As consultas psiquiátricas são trimestrais. No CAPS II faço sessão de psiquiatria, mas não participo da psicoterapia porque não faço parte do grupo que tem apenas transtorno mental. Como tenho comorbidade com droga não me aceitam na psicoterapia, então tenho que fazer a parte”, lamentou.
O vereador Marinho Sampaio ressaltou ofício assinado por vários parlamentares, que foi enviado ao Governo do Estado, questionando o governador sobre a falta de profissionais no Hospital Santa Tereza, e também um caso de agressões a um morador de rua com problemas de saúde mental.
Por fim, o vereador Marcos Papa destacou que o melhor remédio é a prevenção. “Ribeirão Preto pode, sim, tomar providências no sentido de ter equipamentos de saúde mental que funcionem e possam atender adequadamente a população. Fazer trabalho de maneira remota requer uma habilidade maior”, finalizou, emendando que a data da próxima reunião da CEE da Saúde Mental será divulgada nos próximos dias.
Assista a reunião:
Leia também: